sábado, 4 de fevereiro de 2012

Eu, sou eu outro

Eu, sou eu outro. Penso outro como eu. Sinto outro como eu. Não sei pensar comigo só, necessito do outro como se fosse parte de mim. Apodero-me do outro para chegar a mim. Imito-o tanto para chegar a quem sou e, sou-o tanto que até sangro eu. Necessito tanto do outro, que a ausência me causaria um distúrbio incontrolável, que eu deixaria de ser eu. Sou um ladrão de idéias alheias? Isto não me tornaria um ladrão de mim mesmo, já que as idéias pipocam de mim para mim?

Sou eu inteiro quando tenho espelhos. Alguma forma da qual dependo e do qual vario, sem formas concretas e somente abstrações infinitas, de espelhos em espelhos. Sou o fundo infinito de alguém desesperado e me alargo na espessura fundura deste irresponsável nós. Minha alma se funde nesta emaranhada rede de sensações absurdas e sinceras. Sim, sinceras. A sinceridade é sempre meu maior álibi quanto estou com este outro, que no caso, quer dizer eu. Eu, sou o outro sincero.

Ah, quanta verdade há nesse outro. Tanta verdade que me cega como humano e, me corta rasgando a bala, a indignação que tanta cristalidade me causa. A verdade é o tipo de coisa que dizemos e desejamos não ver a cusparada que lhe tacamos. Gosto da verdade, para os outros. A mentira é que às vezes me salva, a verdade é quase sempre dolorida. Não gosto de dores que me tire da ilusão de viver uma vida normal e com sentido que faça o mundo girar em sua forma natural. Fugo da verdade, mas sempre sinto os seus perdigotos em minha face. Sempre sou eu quem recebe a cusparada da vida, do outro.

O outro sou eu por inteiro. O outro também é eu. E é, de forma completa e absoluta. Mas, eu renuncio a tudo isto, ao outro, ao eu. Eu não quero ser eu, mas acabo chegando ao outro, que também é eu. O que posso fazer, se o círculo sempre se fecha e não consigo romper o que sempre se fecha? Eu não escapo do eu, sempre que se foge se chega mais perto ao Deus que se transformou para si. Ninguém escapa do seu Deus.

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